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Doa-se amor, carinho e atenção no programa Ciranda de Pais


O projeto "Ciranda de Pais" tem como finalidade promover e enriquecer as relações entre o contextos escolar e familiar

Dona Nena, pouco conhecida como Neuseli Aparecida Campos, moradora do bairro Karla, em Pinhais, acorda sempre às 5 horas da manhã, de segunda a sexta-feira, para garantir o sustento da família. Hoje é domingo. Mas nada de acordar muito tarde. Isso porque às 9 horas a família tem compromisso marcado com uma equipe de mais de 40 voluntários prontos para doar tudo o que ela precisa: amor, carinho e atenção.

É no Projeto Educação e Apoio a Maternidade, do programa Ciranda de Pais, que Dona Nena, o marido, as 4 filhas e outras 34 famílias recebem dignidade. Lá, no colégio Walde Rosi Galvão, as mães aprendem que uma realidade ruim não pode ser aceita como normal e que para mudar essa situação elas não podem se acomodar. “O pessoal conversa com a gente e ensina como conversar com os filhos, dizer o quanto ama, alertar sobre os perigos, as drogas. Fora as comidas que são uma perdição! (risos) Mas o melhor é que eles colocam carinho em tudo o que fazem”, opina Dona Nena.

Os pais atendidos pelo projeto participam de bate-papos descontraídos, que utilizam uma linguagem simples e acessível para passar orientações e explicações úteis para o dia a dia. Eles também passam por uma intervenção familiar, na qual conversam individualmente com um formador que busca conhecer a realidade e as necessidades da família. Nos intervalos, um delicioso café da manhã fica a disposição de todos os participantes.

Ao final, cada mãe cadastrada no projeto recebe uma cesta básica e demais doações disponíveis naquele mês, que já ficam separadas de acordo com o perfil de cada família. No entanto, o mais incrível é que, apesar de todos os incentivos materiais, as pessoas acordam domingo de manhã para participar do projeto, com um sorriso no rosto, porque elas gostam de estar lá. “Nem ligo de acordar cedo, por mim eu passava o dia todo aqui”, confirma a simpática Dona Nena.

Enquanto os pais participam do projeto, as crianças e adolescentes se divertem com atividades recreativas que, na maioria dos casos, é a única opção de lazer encontrada no bairro. E, assim como os pais, a criançada também fica contando os dias para o primeiro domingo do mês chegar e junto com ele as ações sociais do Ciranda de Pais.

Durante a semana, as famílias atendidas pelo programa recebem acompanhamento, com a visita de uma equipe em suas casas. Ação que vai de encontro com o objetivo do projeto de estimular as competências educativas das mães que se encontram em situação de extrema vulnerabilidade social. “Nós acreditamos que ao cuidar das mães elas se tornarão preparadas para cuidar delas mesmas e consequentemente dos próprios filhos”, explica a pedagoga voluntária que integra a coordenação do projeto, Emily Scarante.

É o caso de Eozane de Fátima do Nascimento que começou a participar da iniciativa depois de uma difícil fase da vida, em que o marido dela faleceu. “As doações que recebemos ajudam muito lá em casa, porém o importante é que hoje sou mais amiga do que mãe das minhas duas filhas que são adolescentes. Entre nós não tem segredo, nem tabu”, comemora. Ela, que é saladeira em um restaurante, já pensa inclusive em voltar a ser diarista por causa da valorização da profissão de empregada doméstica. “Porque se for pagar aluguel e todas as contas da casa com meu salário atual não dá para ter confortos como comer frutas, leite e pão todo dia”, conta.

O projeto de formação de pais do Ciranda de Pais surgiu no ano passado a partir dos resultados da tese de doutorado da professora Cristiane Arns, em Ciências da Educação, realizado na Universidade de Fribourg, na Suíça.


Reportagem: Daiane Rosa e Grazieli Teixeira


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